A casa é escura e fria, mas ainda se ouvem o canto dos pássaros e algumas crianças gritando...
É como se nada pudesse atingi-la, é como se o tempo tivesse parado e não restasse mais nada se não nostalgia, mas o mundo não parou... Somente as ações se congelaram... É tudo tão frio... Tudo tão singular e de certa maneira... Remoto.
São reflexos de lembranças que me perturbam, dos movimentos, da dança que fizeram a alegria de outros tempos, e como já disse Cecília, alguém que sente saudades do dia desconhecido que esteve sobre nossos olhos, ou sobre os meus olhos...
A questão de não querer enxergar, ou, ouvir e até mesmo... não falar... só observar, pensar... e pensar... e não chegar a nenhum lugar... só permanecer no mesmo lugar de sempre e ... de repente ver o sol raiar, a casa se iluminar...e tomar formas espectrais laranjas, amarelas e vermelhas, a pele se tingir e os olhos já não vêrem a escuridão, e sim, a claridade... mesmo a casa estando um pouco sombria.
Já me perco em meio a tantas cores, em meio ao frio... ao calor... de minha própria alma, em meio a casa, em meio as palavras, vozes e visões.
O corpo estremece e toma forma de arbusto... já seco e cansado... decorre de tantas estações, de tantos calores e frios, cores e escuridões... mas há o vento, que ainda sopra... não sopra forte... sente pena do arbusto... se o derrubasse poderia sentir saudades...
Á quem recorreria o vento?
O vento, sempre tão só... egoísta... e forte....
Mas a casa... e a casa?
Sempre tão fria, tão úmida e... simplória... A casa... Ah! A casa... a caixa protetora de todas as cores, de todas as sensações, de todos os ventos... de todos os sentimentos... a caixa sólida que decorre de uma mente... insana... ou... desgarrada de todas as possibilidades mundanas... de tudo... de toda a gente...
E a casa grita... escandalosamente... a casa grita... desesperadamente... a casa grita... involuntariamente... a casa já não consegue parar de gritar e se fecha num estrondo surdo de portas e janelas... e restam os sentimentos... pequenos fragmentos de sentimentos refletidos nos cacos de vidro que se iluminam com o expoente do sol.
Mika O.
Outono de 2007


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